terça-feira, 16 de outubro de 2007

Igreja sem Cristo

Por Cristo, Sem Cristo Devo começar por dizer, para deixar a minha posição clara, que acredito em Cristo. Acredito na sua mensagem, e nesse sentido, considero-me cristão, embora já não tenha certezas quanto a sua transcendência. Acredito na mensagem de Cristo mas não acredito na Igreja; defendo até a sua auto-extinção, pois penso que a sua postura no mundo apenas afasta o Homem de Cristo. A distância da Igreja com Cristo não é de hoje, não apareceu com a chegada de Karol Wojtyla a Papa, nem com o concílio de Vaticano II. Como dizia Eugen Drewermann, «... A Igreja rejeitou o humanismo durante 500 anos, a reforma protestante durante 450, o Iluminismo durante 200 e as modernas ciências naturais durante 100.» Acrescento ainda que assassinou em nome de Cristo com a Inquisição, e que se calou face ao holocausto dos judeus pelo poder nazi. Esta é a Igreja que temos; que sem nunca fazer «Mea culpa, mea culpa», prefere o discurso inflamado em questões como a contracepção a abrir os seus cofres para evitar a morte à fome de crianças em África. O poder corrompe, e a Igreja é o maior exemplo deste ditado. Quando uma sociedade tem como objectivo o poder, a todo o custo, cometem-se as maiores barbaridades, e justificam-se com dogmas acções injustificáveis. Para que serve afinal a Igreja? Penso que a mensagem de Cristo não precisa da Igreja para chegar ao Homem, e felizmente não sou o único a pensar assim. Homens como Mahatma Ghandi afirmaram que no ocidente, onde a Igreja está enraizada, não existe verdadeiro cristianismo. Apesar do clero declarar que a Igreja somos todos, lembro-me do que dizia Eugen Drewermann, que «... na prática os leigos, que constituem 99% desse povo, só tem um direito: fechar a boca e abrir os cordões à bolsa! É uma Igreja em pirâmide: a hierarquia, com o Papa no cimo, afirma que está na posse da verdade. E os leigos podem dizer o que quiserem nada disso conta.» A Igreja de hoje, no seu circuito fechado, declara-se preocupada com a alma, esquecendo-se do corpo que muitas vezes morre de fome! A Igreja é das poucas instituições com poder para acabar com a fome no mundo, mas prefere investir os seus fundos em instituições como o Banco Ambrosiano, com fortes ligações a Máfia Longe vão os tempos em que ser cristão era sinónimo de perigo. A Igreja acomodou-se, depois reprimiu enquanto envelhecia, e hoje radicalizou-se. Reprimiu entre outros, quem tentou transformá-la por dentro. Neste capítulo a Igreja tem uma longa tradição, desde Copérnico até aos sacerdotes da teologia da libertação. É bom não esquecer o recente afastamento do bispo francês Galieot, ou a atitude hipócrita perante o sofrimento dos timorenses. Porque a Igreja prefere dar-se com o mais forte em detrimento dos mais fracos, funciona como um anestesiante contra os distúrbios dos que julgam merecer mais do que uma vida de miséria. A Igreja hoje, como no passado recente, é uma instituição sem princípios, onde impera a diplomacia e o poder dos fortes, em detrimento da dignidade humana. Se Cristo vivesse hoje lutaria, como lutou há 2000 anos contra os fariseus, contra o poder instalado do Vaticano. Felizmente ainda existem homens com espírito de missão, que dedicam a sua vida ao serviço dos outros, à semelhança de Cristo. Desses, tive a honra de conhecer alguns. Lutam desesperadamente por condições dignas dos menos favorecidos, mas acabam por ficar na base da pirâmide da Igreja, sem poder para mudar o que hoje está em decadência. Isto quando não são calados à força pelo voto de obediência, por se terem tornado incómodos ao gritarem por uma mudança da vida dos que sofrem. O que a Igreja deveria fazer, mas nunca fará, é ceder poder, dinheiro, em troca de vidas mais dignas, de menos fome e menos guerra. A Igreja tem poder económico e uma logística capazes de acabar com as misérias que vemos hoje no mundo. Bastava uma vontade expressa pelo topo da pirâmide, para que os milhares de voluntários dedicassem as suas vidas a esse objectivo. A Igreja poderia acabar com a fome! Poderia fazê-lo, mas não admite perder poder, prefere continuar numa pseudo-envangelização, por Cristo, sem Cristo.
João Fonseca

1 comentário:

Anónimo disse...

Delicado, sem duvida...Sem esquecer o que arrepia, lembrar o que conforta. E quanto a isto também não deve haver dúvidas...